quarta-feira, 1 de julho de 2009

Desenvolvimento do ser humano

Como professor, advogo que o ser humano deve crescer e se desenvolver, melhorar, procurar ser um filho melhor que seu pai nos aspectos que escolher. Somos invadidos por diversos tipos de distrações, muitos são apresentados pela televisão, pelo jornal, mascarando o que importa e inserindo esportes, erotismo e religiões, desviando do próprio conhecimento. É o entretenimento, o supérfluo, a fuga de si mesmo.

Os valores sociais da sociedade são egoístas e distorcidos manifestando-se em guerras, destruição do meio ambiente, superstições e corrupção resultada da ignorância coletiva sobre os aspectos emergentes do ser humano.

Nesses aspectos emergentes, os sistemas como o conhecimento, a sociedade, a tecnologia, a filosofia, ou qualquer outra criação passará, quando não inibida, por transformações constantes em direção a um desenvolvimento, sendo suplantadas por tecnologias mais eficientes, por idéias mais modernas e aceitas pela sociedade. Este progresso parece não ter fim e saber disso nos direciona e nos leva no caminho do crescimento e do progresso.

Não deve existir conhecimento empírico estático, e sim a percepção de caráter emergente dos sistemas já mencionados. Dessa forma, deve-se estar sempre aberto a novas informações, novos conhecimentos, mesmo se isso ameace nosso sistema atual de crenças e, portanto, nossas identidades.

Infelizmente, a sociedade de hoje falha em reconhecer isso, e as instituições estabelecidas, seja a igreja, o governo e o mercado, paralisam o crescimento do ser humano, preservando estruturas sociais desatualizadas. Ao mesmo tempo, a população sofre de medo da mudança, pois seu condicionamento envolve uma identidade estática, e desafiar as crenças de alguém normalmente acaba em insultos e apreensão, pois estar errado é incorretamente associado ao fracasso quando, na verdade, estar errado é algo a se celebrar, afinal isso eleva alguém a um novo nível de entendimento, de maior consciência. Diz-se que se aprende melhor com nossos erros.

Os personagens históricos criativos e inteligentes, cientistas e inventores tiveram seu tempo e jazem na história como heróis. A maioria deles já teve suas idéias ultrapassadas e suas invenções melhoradas. Assim, é uma questão de tempo para que o ser humano dito sábio tenha suas idéias atualizadas, alteradas ou erradicadas. A tendência de se agarrar cegamente a sistemas de crenças, isolando-os de informações novas e possivelmente transformadoras é uma forma de materialismo intelectual.

A mídia de massa e diversas instituições induzem as pessoas a apoiar estas estruturas arcaicas cegamente, tornando-se guardiãs voluntárias de um sistema perverso, e controlando, elas próprias, ao isolar aqueles que se comportam fora do padrão, aqueles que possuem idéias diferentes da massa.

Ao resistir à mudança e apoiar, mesmo sem sentir, induzido por familiares e colegas, instituições existentes em nome de uma identidade frágil e efêmera, do conforto, do poder e lucro é insustentável e leva-nos a uma devastação ambiental, produzindo mais desequilíbrio, fragmentação, distorções e, inevitavelmente a destruição geral.

Visões de mundo dominadoras, como religiões teístas, que crêem em um Deus, funcionam com a mesma irrelevância social puxando o homem para longe dele mesmo. O cristianismo, islamismo, judaísmo, hinduísmo e todas as outras existem como barreiras para o crescimento pessoal e social, pois cada grupo perpetua uma visão de mundo fechada, e o modo de compreensão que eles reconhecem é simplesmente impossível em um universo emergente.

Assim a religião conseguiu bloquear o conhecimento desse caráter do universo ao instituir a distorção psicológica chamada de fé entre seus seguidores, no qual a lógica e as novas informações são rejeitadas em função de crenças tradicionais e atrasadas.

Estas crenças estão na contramão do pensamento sistêmico, do autoconhecimento, do desenvolvimento e proteção ambiental, comungando com as formas atrasadas do sistema laboral que perpetua o desemprego, incentiva o consumismo e destrói o meio ambiente. Parece que humanidade fez uma escolha por uma existência mais breve, porém mais estimulante, como o hippie dos anos 60 que quer viver dez anos a 100 Km/h do que viver cem anos a 10 Km/h.

Referências

BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Ed. 70, 2007.

BOULDING, K. The economics of the coming spaceship Earth. In DALY, H.; TOWNSEND, K. Valuing the Earth: Economics, ecology, ethics. Massachusetts: Massachusetts Institute of Technology, 1993, p. 297-309.

BROWN, Lester R. O vigésimo nono dia. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1980.

CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas. São Paulo: Cultrix, 2002.

DALY, Herman; TOWNSEND, Kenneth. Valuing the Earth: Economics, ecology, ethics. Massachusetts: Massachusetts Institute of Technology, 1993.

DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. 4. ed. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2000.

DIAMOND, Jared. Colapso. Rio de Janeiro: Record, 2005.

FERNANDEZ, Fernando. O poema imperfeito: crônicas de biologia, conservação da natureza, e seus heróis. 2. ed. Curitiba: Ed. UFPR, 2004.

FLANNERY, Tim. O clima está em nossas mãos. História do aquecimento global. Cruz Quebrada, Portugal: Estrela Polar, 2006.

GEORGESCU-ROEGEN, Nicholas. La Décroissance: Entropie, Écologie, Économie. Paris: Editor Sang de la Terre, 1995.

Zeitgeist: Addendum. filme

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Decrescimento econômico. Loucura?

A sociedade hodierna baseia-se em crescimento econômico, crescendo a riqueza dos países podem-se oferecer empregos para os jovens que estão entrando no mercado de trabalho, construir hospitais, escolas e estradas. Até diz-se que se podem eliminar a pobreza. Este discurso vem, naturalmente, dos economistas e advogados. São eles que dirigem os países (aconselhando políticos), as empresas e os municípios.

Quando se defende idéias de crescer menos ou de decrescer, se procura um horizonte mais distante, que possa contemplar assuntos estranhos à economia, como a ecologia, por exemplo, como faz a Sociedade Brasileira de Economia Ecológica – ECOECO em que traz abordagens de um economista pouco conhecido como Nicholas Georgescu-Roegen. Em 1976, este romeno publicou um texto sobre entropia, ecologia e economia cujo título era o decrescimento. Nesta época ele advogava que a economia não pode crescer indefinidamente, pois se baseia em aspectos mecânicos – para a indústria funcionar necessita de matéria prima e energia. Tanto uma quanto a outra podem se esgotar ou, depois de usada, se encontrar em estado tal que não sejam aproveitáveis.

O crescimento também deve ser definido. O crescimento populacional já exerce demasiada pressão sobre os recursos ambientais; o crescimento do PIB não leva em conta a questão social e ambiental e o modelo energético baseado no carvão e no petróleo não suporta um crescimento mundial de 3% ao ano ou como o chinês do início do século XX, de cerca de 10%, por muito tempo.

O decrescimento aqui apresentado não é sinônimo de recessão ou crescimento negativo da economia, é uma necessidade para que não se tenha que tomar medidas mais drásticas num futuro próximo. Ainda não se pode provar, com 100% de certeza, que aja uma causa direta entre os problemas ambientais como o aquecimento global ou a subida do nível do mar e o crescimento econômico. Pode-se argumentar, entretanto, que o planeta não suporta o modo de vida dos povos dos países desenvolvidos nem muito menos pedir para que os outros países não queiram ter este tipo de padrão de vida.

Um decrescimento desejado, sem ser obrigado, trará mais empregos em energias alternativas, nos setores de serviços, embora possa oferecer menos horas trabalhadas, reduzir gastos com o setor militar e nos deslocamentos de pessoas e mercadorias. Dirigentes e políticos querem crescer, desenvolver, e a limitação dos recursos é assunto que não devem querer ouvir nem debater, pois vão contra os interesses dos eleitores, dos religiosos e dos empresários.

Alguns economistas mais progressistas, entendedores do assunto, procuram explicar a situação como se fosse uma lógica do mercado. Se se aplicar o dinheiro a ser gasto com as causas ambientais num banco, durante alguns anos, ter-se-á um montante justificável da inércia atual. Com esta lógica economicista se esperam grandes catástrofes num futuro próximo, maiores até que as enchentes, secas e furacões que assolam o planeta hoje.

2. Economia em perspectiva

Manter a máquina da economia funcionando indefinidamente, como pensa alguns economistas que fazem cálculos para o indefinidamente de uma ou duas gerações, com a população mundial crescendo a cerca de 2% ao ano, é importante que a economia dos países cresça. Talvez não 10 a 11% como a China nos últimos anos, mas, quem sabe de 3 a 4%. Para a maioria dos pesquisadores, das diversas áreas, é consenso a necessidade de crescimento da economia, resolvendo problemas de abastecimento, de emprego, de pobreza e a pressão sobre o meio ambiente e os recursos naturais será resolvida em um futuro breve.

Citar as trapalhadas do ex-presidente George W. Bush não causa mais comoção, mas como presidente dos EUA, em fevereiro de 2002, declarou em rede nacional: “Como chave do progresso do meio ambiente, fornecendo os recursos que permitem investir nas tecnologias limpas, o crescimento econômico é a solução, não o problema.” Para muitos o crescimento da economia é a solução para problemas ambientais e sociais, criando empregos e propiciando uma distribuição mais igualitária. Atualmente esta teoria é questionada pelas estatísticas.

Para Meadows, Randers e Meadows (2007) as formas atuais de crescimento, em vez de reduzir, como alega o antigo presidente, perpetuam a pobreza e aumentam a distância entre ricos e pobres. O aumento da produção industrial mundial em 14 vezes desde 1930, fez com que muitas pessoas enriquecessem, mas não eliminou a pobreza. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento denuncia que, em 1960, 20% da população mundial que vivia nos países mais ricos possuíam uma renda per capta 30 vezes maior que os 20% que viviam nos países mais pobres. Em 1995 esta relação pulou de 30:1 para 82:1. Ainda segundo estes autores, a metade mais pobre da população brasileira, em 1960, recebia 18% da renda nacional e somente 12% em 1995. Dez por cento dos brasileiros mais ricos recebiam 54% da renda nacional em 1960, aumentando para 63% em 1995.

Antigamente podia-se aceitar a vinculação do crescimento econômico com o nível de empregos, as fábricas necessitavam de pessoal para trabalhar com as diversas máquinas. Hoje a automação e a informática estão substituindo o trabalho laboral por pessoal especializado. Até no campo, com tratores e colheitadeiras, isso ocorre. Então o crescimento passa a ser algo matemático, estatístico. Baudrillard (2007) denuncia que o PIB, a contabilização do crescimento, é um bluff coletivo das sociedades modernas. Para seu cálculo só entram fatores visíveis e mensuráveis segundo o critério da racionalidade econômica. Nele não se computam o trabalho doméstico das mulheres, nem a investigação, nem a cultura, muito menos o trabalho que o meio ambiente faz de graça como limpeza de rios e mares, a captação de CO2 e liberação de O2 bem como a manutenção do clima. Mas podem entrar no cálculo coisas sem propósito pelo fato de serem mensuráveis. Em todo caso, estas contabilidades não conhecem sinal negativo, tudo é adicionado sejam gastos com venda de cigarros ou do cuidado com os doentes que fumaram estes mesmos cigarros, sejam de reparos de furacões, enchentes e secas. As despesas são computadas e torna-se aumento da produção e da riqueza social.

E o conhecimento, a criatividade e a riqueza pessoal reduzem o tempo a ser laborado, pois quem tem dinheiro pode ganhar mais dinheiro pelo simples fato de já o possuírem, sem empregar trabalho. Prerrogativa de uma elite que pode aproveitar oportunidades para pensar tendências de mercado e ócio. Outros que trabalham demasiado em aspectos braçais, os trabalhadores do chão de fábrica, por exemplo, não conseguem amealhar muito, apenas para sua subsistência, quando ainda conseguem manter o emprego.

3. Consumo

Dessa forma, mesmo sendo contra o pensamento econômico vigente, comum a quase toda a classe política e empresarial, que afirma e divulga na mídia, que a felicidade deve ocorrer por um maior crescimento, mais produtividade, mais emprego, maior poder aquisitivo e, portanto, mais consumo. Esta felicidade, aos olhos cínicos de Baudrillard (2007), deve ser mensurada, como se estivesse intensificando o bem-estar de uma comunidade, procurando manifestá-la aos olhos dos outros e de nós mesmos, como se necessitasse de provas para se ser feliz. A exigência de igualdade, de ter o que o outro tem ou algo melhor, distancia-se de toda a comemoração coletiva, de festas e celebrações, pois se fundamenta em princípios individualistas, de critérios visíveis.

A sociedade atual é de crescimento porque se deixa absorver por ela. Como se a democracia fosse direcionada de uma igualdade entre os homens para uma igualdade símbolo de êxito social e da felicidade. Passa a ser a democracia da televisão, do automóvel, dos celulares, democracia aparentemente concreta, mas formal, reforçando contradições e desigualdades sociais da própria constituição. Esta dualidade se conjuga numa democracia global, que mascara a democracia ausente e a igualdade difícil de achar. As diversas comunidades, ontem e hoje, desperdiçaram, gastaram e consumiram sempre além do necessário, pela simples razão de que é no consumo do excedente e do supérfluo que, tanto o indivíduo como a sociedade, se sente não só existir, mas viver. Sejam os antigos povos que queimam ou jogam no mar pele de animais, canoas e mantas para manter posição e afirmar o próprio valor, sejam as modernas sociedades em que a troca ou aquisição, racional ou irracional, de bens que se revelam essenciais no desenvolvimento de determinado setor da economia (BAUDRILLARD, 2007). Procura-se justificar uma utilidade para o quinto celular, para a décima bolsa ou para o vigésimo par de sapato.

Para o economista idealista, o crescimento é abundância, e a abundância é democracia. Simplificando, nesta sociedade de consumo, a abundância só terá sentido no desperdício - bens materiais, energia ou mesmo água, pois não se vive mais em função da sobrevivência. Aparentemente, se vive em função do sentido individual ou coletivo que se dá à vida.

Dessa forma, justifica-se o crescimento pelo próprio crescimento, como se fosse o objetivo primordial, senão o único da vida. Tal sociedade não é sustentável, porque vai contra os limites do planeta. O ator Danny deVito estrelou um filme dirigido por Norman Jewison “Com o dinheiro dos outros - Other People's Money” no início da década de noventa, em que o personagem argumenta que a finalidade da vida é amealhar o máximo de dinheiro até a morte. No final quem tiver mais ganha, diz ele. E essa forma efêmera de viver é aceita e incentivada. A publicidade está gerando necessidades de algo que não se precisa, com um dinheiro que não se tem, para impressionar pessoas que não se gosta.

Latouche (2009) diz que o decrescimento é uma necessidade, não é um ideal, nem o único objetivo de uma sociedade de pós-desenvolvimento. Pelo menos para as sociedades desenvolvidas, o decrescimento é um objetivo do qual se pode tirar proveito, abandonando o objetivo insensato do crescimento pelo crescimento. O decrescimento não é o crescimento negativo, expressão contraditória e absurda que traduz bem a dominação do imaginário do crescimento.

Para Latouche (2009), uma sociedade de crescimento não é desejável pelo menos por três razões: produz um aumento das desigualdades e das injustiças, cria um bem-estar amplamente ilusório, e não promove, para os próprios favorecidos, uma sociedade de convivência, de festas entre amigos, mas uma anti-sociedade doente devido à sua riqueza.

4. Problemas inerentes do crescimento

Diversos autores já comentaram a direção que os países estão tomando devido ao modelo industrial-desenvolvimentista adotado na maioria dos países, sem se importar com as questões sócio-ambientais. Embora alguns economistas já afirmassem que é imoral um empresário negligenciar o lucro, para este modelo industrial-desenvolvimentista o que interesse é o lucro, não de onde vem a matéria prima ou para onde vão os resíduos ou se existe trabalho para todos os que necessitam.

Para Flannery (2006), um influente ambientalista, a subida do nível dos mares, se realmente acontecer como previsto por diversos cientistas, desalojará milhões de pessoas e empresas nas regiões costeiras. Al Gore (2006), embora com certa conotação política, comenta a evaporação do solo e das águas dos rios e oceanos pelo aquecimento global, causando secas e enchentes em diversas regiões de um mesmo país, e denuncia também a infestação de mosquitos, a proliferação de pragas em cidades antes consideradas imune devido à sua alta latitude, como Harare e Nairobi.

Rees (2005) escreve sobre as ameaças humanas à Terra, denunciando tanto sobre a grande quantidade de seres humanos como do seu estilo de vida – semelhante ao padrão americano ou europeu, que exerce enormes pressões sobre os recursos naturais – minerais ou não. Para Rees (2005), bem como para Meadows, Randers & Meadows (2007), Wilson (2002) e Hawken (1993), existem limites físicos teóricos envolvidos no crescimento, os quais a população humana já ultrapassou ou está prestes a ultrapassar. Com os atuais 6,6 bilhões de pessoas, a quantidade de água potável e terras aráveis per capta estão atingindo níveis perigosos. O que se denomina pegada ecológica - a quantidade de planeta que cabe a cada um de nós para suprir as necessidades de alimento, água, habitação, energia, despejo de resíduos, seja em terras agricultáveis seja em porção de oceano. A média mundial é de 1,9 hectares per capta, embora a população americana possua uma pegada de 9,6 hectares, um canadense 7,2, um europeu médio 4,5 e os países em desenvolvimento um hectare. O limite teórico, de 1,4 ha foi, portanto, ultrapassado.

Assim, ao exemplo da capacidade de carga usada, que deve ser respeitada para não comprometer determinados ambientes, se se tomar como indicador de nosso modo de vida para o meio ambiente, obter-se ão resultados insustentáveis, tanto do ponto de vista da eqüidade nos direitos de retirada da natureza, quanto do ponto de vista da capacidade de regeneração da biosfera.

5. Crescimento exponencial

O Produto Interno Bruto (PIB) é definido como todos os bens e serviços produzidos dentro do território econômico, independentes de serem ou não propriedade de residentes no país (ROSSETTI, 1988, p. 504) em um período de tempo. É um dos indicadores mais utilizados para mensurar a atividade econômica de uma região. É um desejo dos países que este PIB cresça sempre, pois significa certo consumo e investimentos por parte da população, que os gastos governamentais e o comércio exterior estão em movimento.

Em todo caso, parece que a população, em geral, tem dificuldade em compreender a função exponencial, ou seja, o crescimento exponencial. Já há muito tempo, conta a lenda, um rei quis recompensar o inventor do jogo de xadrez e ofereceu a ele qualquer coisa. Qualquer coisa? Perguntou o inventor. Então gostaria, respondeu ele, de um grão de trigo pela primeira casa do tabuleiro de xadrez, dois pela segunda e quatro pela terceira, dobrando até a última. O rei achou que alguns punhados de trigo bastariam e que este sujeito poderia ter escolhido presente melhor. Acontece que todo o trigo do mundo não chegaria a pagar nem a metade do que o inventor queria. Matematicamente, demandaria 350 vezes a produção anual de trigo de todo o planeta no ano de 2006!

Naturalmente o rei da história não conhecia o crescimento exponencial! Em outro exemplo, um vendedor de carros ofereceu uma motocicleta nova que valia 8.000 Reais, a um sujeito que queria adquirir a moto, mas não conhecia a função exponencial. O acerto era que o comprador daria um real no primeiro mês, dois no segundo, quatro no terceiro, dobrando até o 14º mês. O que parece um bom negócio no início – 8 e 16 reais no quarto e quinto mês, torna-se um pesadelo – 4.096 e 8.192 Reais no 13º e 14º mês respectivamente. Um valor superior ao da moto foi pago em um só mês, o último, totalizando 16.384 Reais. Brown (1980) em seu livro o “vigésimo nono dia”, trás uma alegoria de um homem que possui um lago e, um dia, aparece um único nenúfar. Imagine que estas plantas dobram de tamanho diariamente. Se o lago está coberto de nenúfares em 30 dias em quanto tempo o lago estará coberto pela metade? Naturalmente, se as plantas dobram de tamanho em um dia, o título do livro mata a charada. Mas quando o dono do lago notará isso? No 21º dia os nenúfares cobrem 0,2% do lago, no 25º dia 3,125%, no 26º dia 6,25%. O que se sente é que muitos economistas também têm dificuldade em perceber o que significa um crescimento contínuo, seja da economia ou populacional. O PIB é calculado sobre valores do ano anterior e um crescimento de 10% como o da China, faz a economia deste país dobrar a cada sete anos.

Qualquer pessoa que olhar atentamente às manchetes dos jornais, observará que se está vivendo tempos de mudança, alterações ambientais como o aquecimento global, a diminuição da biodiversidade e o esgotamento de alguns recursos minerais; mudanças econômicas no que se refere ao aumento do preço do petróleo - a fonte de energia mais utilizada no mundo, na rápida diminuição das reservas de cobre, estanho e zinco e no alto preço pago para se ter água potável, com certa qualidade, quando a ter, pois alguns países e diversas cidades brasileiras, como Recife, estão com dificuldades de obter água. Sem querer imputar responsabilidades a nenhum setor, sente-se que alguma coisa de errado está ocorrendo.

Como pode países desenvolvidos, como a Alemanha e a Dinamarca, em que quase todas as casas aproveitam a água da chuva, possuem painéis de energia solar, locomovem-se de bicicleta e é normal que os carros sejam novos, afinados e gastem pouco, além de que boa parte da população reciclem seu lixo, ter uma emissão, per capta, de CO2 maior que muitos países em desenvolvimento? A resposta é simples: por serem ricos, o consumo nestes países é muito grande, gerando uma maior produção de bens e emissão de CO2. Pode parecer catastrófico, mas, se estes países que são considerados verdes, com crescimento populacional abaixo dos 1,2%, ricos e preocupados com as questões ambientais não conseguem resolver alguns problemas ambientais o que significa a longo prazo? E sobre os demais países?

Autores como Meadows, Randers & Meadows (2007), Daly (1993), Georgescu-Roegen (1976), advertem, não para um crescimento zero, mas para um decrescimento da economia, no sentido que, em um futuro próximo, um dos principais problemas será o aumento dos resíduos causados pelo processo industrial/desenvolvimentista, são apenas poluição dos solos ou das águas, mas atmosférica. A energia requerida para manter a sociedade causa emissão de CO2 (se pensarmos em petróleo e/ou carvão, responsáveis pela geração de mais de 70% da energia mundial) e conseqüente esgotamento das reservas. Fonseca (1977) já denunciava que, se não fossem encontradas mais jazidas minerais, as reservas de chumbo, estanho, mercúrio, petróleo e zinco estariam quase que esgotadas por volta do ano 2000.

Sérgio Abranches, comentarista da rádio CBN, fala sobre a falta de coragem, para não dizer despreparo dos políticos nas eleições de outubro de 2008. Praticamente nenhum dos candidatos, no segundo turno, falou sobre suas propostas para a questão do meio ambiente, parecendo que não tem importância ou não é cobrado pelos eleitores ou ainda que a o lobby agrícola/pecuário ou religioso é forte. É um assunto incômodo, pois vai prolongar os problemas ambientais para um futuro em que a esperança, utopicamente, estará nos avanços tecnológicos, na ciência e na técnica que deverão suplantar nossas deficiências como um ser inconsciente e destruidor, egoísta e egocêntrico. Infelizmente, políticos em outros países não são diferentes, e estas mudanças globais não estão sendo acompanhadas de uma alteração equivalente na consciência econômico-ambiental humana frente a esses problemas, ou seja, continua-se a fazer o que sempre se fez, o consumo aumenta, o homem continua individualmente competitivo nos negócios, na violência, preocupado em possuir bens, muitos desses supérfluos. Dessa forma é ingenuidade se esperar resultados diferentes para as mesmas ações.

Embora exista um sentimento de preocupação por parte dos mais letrados, esta sensação está ligada a uma inércia alarmante, pois um dos maiores problemas mundiais sócio-ambientais, abordados por poucos e corajosos pensadores, é a superpopulação, pois quanto mais pessoas maior é a pressão sobre os recursos naturais, maior a necessidade de energia, de alimentos, os espaços são divididos por mais indivíduos, maior a degradação ambiental. Entretanto, parece irrelevante divulgar a questão sobre o excesso de gente sobre o planeta, porque a igreja condena o controle de natalidade, os contraceptivos e, como os políticos não se preocupam com o assunto, aja vista que além de existir o livre arbítrio familiar, não querem ir contra os mandamentos religiosos (podem perder votos) e, certamente, não entendem os problemas em escala mundial.

6. Decrescimento

Para Latouche (2009) o decrescimento não significa crescimento negativo, uma recessão. Se o decrescimento não for voluntário, necessário em algumas sociedades, uma visão de futuro, mas sim uma obrigação causada pela redução de matérias primas ou recursos fundamentais à vida, neste caso poderá se tornar uma catástrofe, causando graves problemas sociais, até mesmo a morte devido à escassez de determinados recursos como alimentos básicos.

No caso de se ter o decrescimento como um plano de governo, a ser executado em prazos determinados, pode-se realocar trabalhadores, distribuir recursos de forma diferente da atual, criar outros tipos de empregos no setor de energias alternativas, de serviços, reduzindo a jornada de trabalho, diminuindo gastos com a defesa nacional ou aumentando impostos de produtos supostamente supérfluos.

A desaceleração do crescimento por si só mergulhará nossas sociedades em crises semelhantes às vividas em 1929, criando desemprego, desabastecimento (ou falta de dinheiro para consumir) e poderá se alastrar para outros países. Ocorrerá abandono dos programas sociais, culturais e ambientais que manteriam a conservação do meio ambiente garantindo um mínimo de qualidade de vida. Apesar da mecanização e informatização das indústrias, reduzindo o quadro de pessoal em diversos setores. A sociedade trabalhista necessita, portanto, de trabalho, da mesma forma que é preciso crescer nesta sociedade de crescimento.

Para Georgescu-Roegen (1995) e Latouche (2009), uma política de decrescimento poderia consistir, inicialmente, em reduzir a pressão sobre o meio ambiente das cargas que não trazem benefício social algum, que não o empregatício. Embora alguns filósofos pensem que o mundo ficará mais triste, sem sal e sem emoções com estas reduções, pois voltaríamos a ser uma sociedade semelhante à feudal, mais preocupada com a preservação humana, com a própria sobrevivência. Dessa forma, questionam-se os deslocamentos de homens e de mercadorias, seja por automóveis ou aviões, através do planeta com o impacto negativo correspondente não apenas de poluição, mas também de uso de recursos escassos como combustíveis fósseis; questionam-se a publicidade exagerada e freqüentemente nefasta levando a um consumismo já criticado e; a obsolescência acelerada dos produtos e dos aparelhos descartáveis, sem outra justificativa a não ser fazer com que gire cada vez mais depressa a máquina infernal do consumo.

7. Disponibilidade de energia

Em 2004 foi lançado um filme de ficção “Quando o petróleo terminar”, IF-Cuatro, comentando que, em 2016, o preço do barril de petróleo custará quase 100 dólares e, por isso, o mundo estaria um caos. Como se sabe, o barril de petróleo chegou a 143,00 dólares em meados de 2008, embora em 2009 oscile em torno de 50 dólares. Em todo caso, o custo para se extrair um barril de petróleo no Oriente Médio é de 17 dólares. No Brasil, nas águas profundas da bacia de Campos, RJ, sobe para 35 dólares. A diferença, para os 143 dólares, é praticamente lucro. Em todo caso, mesmo o preço de 200 dólares o barril não cobre os danos ambientais causados pela poluição e ainda não é suficiente para promover alterações na matriz energética, muito menos para alterar comportamentos sociais em direção a estes problemas.

A revista Exame (2008), relata que o petróleo é responsável por 35% da matriz energética do mundo (38% no Brasil), e de 85% dos combustíveis automotivos além de produzir asfalto, plásticos, roupas, cosméticos, embalagens, tubulações etc. e por quase tudo que se usa na lide agrícola como inseticidas e adubos. O mundo consome 120 milhões de barris de petróleo por dia, e as reservas descobertas não fazem frente a esse consumo. Os especialistas em petróleo otimistas, dizem que as reservas mundiais durarão mais uns 30 anos (os países da OPEP e as petroleiras se recusam a divulgar o montante de suas reservas, pois quem possui o ouro negro possui poder, acionistas e é bom para estes países inflacionarem a quantidade de suas reservas). Vive-se em uma era de energia barata e facilmente manuseável, fazendo com que nossa dependência seja grande, praticamente toda a sociedade gira em torno do petróleo. O crescimento econômico depende dessa fonte de energia suja e barata e, logo, não se poderá mais contar com ela, não com estes preços nem estas disponibilidades.

Apesar de saber-se que a energia é conservativa e de Lavoisier dizer que “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, depois de usada, a energia se transforma em calor e não pode ser usada novamente. As indústrias usam matéria prima e energia, quer dizer, este processo inicia com energia barata e termina com estes mesmos produtos já usados, nos aterros sanitários. Enquanto procura-se na ecoeficiência e reciclagem uma forma de reusar algumas matérias primas, com a energia não é possível.

Atualmente, as energias alternativas como a eólica, solar ou dos biocombustíveis são responsáveis por 3% da matriz energética mundial (17% no Brasil devido aos biocombustíveis) e não representam uma produção constante e em quantidade para ser usada industrialmente. Isso ocorre porque a energia não pode ser armazenada em grandes quantidades. O vento não sopra sempre e o sol se esconde à noite, quando não está nublado, embora apresente perspectivas de crescimento e demanda de mão de obra.

Não obstante os alimentos sejam uma forma de energia, o aumento dos preços desses tem relação direta com a substituição das terras usadas para a agricultura convencional para a plantação de milho e da cana de açúcar, embora não tanto no Brasil devido à sua histórica relação com a cana de açúcar e a grande quantidade de terra disponível. Não se comentará aqui sobre países ricos como Japão e Espanha, embora dependentes, mas sem petróleo. Nem Alemanha, que vem desenvolvendo uma rede de energias alternativas de forma audaciosa e radical e apenas conseguiu que 16% de sua matriz energética fossem substituídas por essas energias. O preocupante são países mais pobres, principalmente aqueles mais dependentes de petróleo.

Embora possa se conseguir substituir e adequar as questões energéticas mundiais para uma matriz praticamente independente do petróleo, como o hidrogênio, de fissão ou o biodiesel, o aumento da população mundial e o desperdício esgotará qualquer tipo de energia, seja ela qual for.

O crescimento econômico chinês dos últimos anos tem um aspecto legítimo e desejável para um país que quer oferecer melhores condições de vida a cerca de um bilhão e trezentos mil camponeses. Mas deve-se levar em conta aspectos sociais e ambientais. O país almeja construir 300 termelétricas a carvão até 2020. Além de causar imensa poluição, o crescimento esta desequilibrando a sociedade chinesa. Estão sendo criadas grandes desigualdades sociais no país. Entretanto, se 20% da população possuir automóveis, além de grandes congestionamentos, o consumo de combustível será problema bem como o aumento da poluição, embora ainda não se tenha certeza se o planeta comporta tamanho crescimento do consumo.

8. Superpopulação

Confúcio, sábio chinês que viveu há 2.500 anos, dizia que, se cada casal tiver 5 filhos, como era hábito na época, cada filho herdaria um quinto das terras da família, diminuindo bastante o patrimônio com o passar do tempo, ou seja, empobrecendo a comunidade, dificultando o acesso ao crédito, a saúde, educação e aumentando a pressão sobre os recursos ambientais.

A humanidade alcançou um bilhão de pessoas em 1804, depois de 123 anos alcançou o segundo bilhão. Em mais 47 anos, em 1974, a população dobrou novamente e, atualmente, conta-se com 6,6 bilhões. No ano de 2050, a estimativa é de 9 bilhões de pessoas. A cada 14 anos acrescenta-se um bilhão de pessoas no planeta. Da mesma forma que a China está ensinando um caminho para lidar com a superpopulação, com a exigência de apenas um filho por casal, o mundo deverá impor, na medida do possível, condições para estabilizar, ou mesmo diminuir, a população sobre o planeta. Entretanto os problemas sociais causados pelo excesso demográfico repercutem na falta de oportunidades para os menos privilegiados produzindo desigualdades obscenas, com o conseqüente aumento da violência. O que os dirigentes observam são problemas superficiais que devem ser resolvidos com paliativos como reforçar a segurança pública. Quando a população cresce mais que os recursos a desigualdade tende a aumentar bem como a competição pelos recursos.

Diamond (2005) descreve como o excesso de gente pode causar pressões e devastar os recursos naturais podendo chegar a extinguir comunidades. Um dos casos mais emblemáticos é a Ilha da Páscoa, distante 3.700 km do Chile, que, segundo a teoria mais aceita, chegou a ter uma população de mais de 20.000 pessoas. Quando os europeus apareceram, em 1722, e viram enormes esculturas chamadas de moais, pesando de 9 a 88 toneladas cada uma, havia menos de 2.000 pessoas na ilha, nenhuma árvore e, nos monturos de lixo, restos de ossos de aves, peixes, ratos e de humanos, indicando que os últimos habitantes recorreram aos ratos e ao canibalismo para sobreviver. Pesquisadores acharam vestígios de pólen e carvão de árvores imensas, indicando que a ilha tinha uma grande floresta; nos ossos, uma fauna de 25 tipos diferentes de aves. Os 12 clãs existentes competiam entre si pela estátua mais alta que era oferecida aos deuses para apaziguar suas dores e permitir melhores colheitas e condições ambientais. Para transportar e levantar cada um desses megalíticos de 4 a 10 metros de altura por 14 km usaram árvores e cipós, além de cerca de 50 a 500 pessoas. O que pensaram estas pessoas quando cortaram a última árvore?

Oferecer educação de qualidade é uma forma viável de controlar a natalidade e, embora mesmo que se tenha a disciplina e o rigor dos chineses, a população mundial ainda vai continuar crescendo por mais alguns anos. Pode-se descartar, em parte, a tecnologia como solução porque, além de não chegar aos países mais pobres devido à miséria e as doenças, implica numa mudança radical em nossas percepções e em nossos valores e não serve quando se esgotam determinados recursos.

Agora imagine um casal dividindo um banheiro. Como é comum nas casas, pode-se ler uma revista no trono, embelezar-se, tomar um banho demorado, usar como se quer e por quanto tempo se convier. Neste caso parece bobagem dizer que se necessita de regras escritas para usar o banheiro e por quanto tempo. Mas suponha que há 10 pessoas para usar o mesmo banheiro em sua casa. Devem-se estabelecer turnos e normas como não cortar as unhas no banheiro, banhos e necessidades rápidos e, ainda assim, em certas ocasiões, muitos vão bater na porta apressando os demais. Dessa forma, ao dividi-lo com tanta gente, não existe liberdade e direito para usá-lo. Se extrapolarmos o caso do banheiro para terras aráveis, para usos dos órgãos públicos, saúde e educação para todos ter-se-á um caos. Dessa forma, onde existe superpopulação não existe democracia.

9. Desenvolvimento sustentável?

Pensa-se, a princípio, que muitos problemas serão resolvidos pelos economistas e gestores se o desenvolvimento sustentável for uma meta e se trabalhar sobre isso nas empresas e repartições públicas, pois ele permite conciliar o desenvolvimento econômico com a conservação da natureza. Ocorre que o desenvolvimento sustentado com o aumento constante da população é complexo, embora ajam dúvidas sobre se existe um crescimento sustentado. Para muitos, isto é um oximoro, uma expressão que se contradiz, como um instante eterno. Ou se é instante ou é eterno. Ou se é desenvolvimento ou é sustentado. Não se pode crescer, como quer o Brasil e o mundo, indefinidamente. Ao aumentar, a economia gerará necessidade de mais crescimento. Diversos economistas já denunciaram a questão e parece que os líderes não entenderam ou não querem pensar nisso. Da forma como a economia está estruturada, é necessário um crescimento constante para fazer frente ao consumo, ao emprego e aos gastos da previdência social, por exemplo. O crescimento da economia, da população, da quantidade de alimentos é desejável e até se pode prolongá-los por mais algum tempo, mas sabemos que não é possível crescer sempre e quanto mais rápido se achar alternativas melhor.

Como diz Fernandez (2004), o desenvolvimento sustentável é uma expressão perigosa, pois dá às pessoas a falsa ilusão de que se está protegendo a natureza, sem alterar a lógica econômica. A expressão serve para aliviar as consciências de consumidores e produtores, além de ser uma ótima estratégia comercial permitindo a inserção de seus produtos num mercado cada vez mais preocupado com as questões ambientais.

Ambientalistas afirmam que se continuar a viver com o atual padrão energético e de consumo, precisar-se-á de 6 planetas como a Terra para fazer frente a nossos gastos. Como é possível que as próximas gerações possam desfrutar do que se tem na atualidade? Apesar da impossibilidade vista anteriormente, a melhor definição de desenvolvimento sustentado é aquela que satisfaz suas necessidades sem diminuir as perspectivas das gerações futuras. Estas necessidades devem ser realmente necessárias, para sobrar para as outras gerações. O grande problema é que as futuras gerações não estão aqui para reclamar sobre o que vão receber mais tarde.

Alguns economistas menos cínicos, acreditam que o principal problema é definir quem irá gastar o que, quando, quanto e como. Já aparecem diversos autores comentando o assunto, sinalizando um coro de vozes em defesa de um freio no uso dos recursos naturais e/ou um conjunto de catástrofes num futuro próximo. O dinheiro a ser gasto hoje nestes cataclismos, com certa dose de incerteza sobre sua eficácia, permite que economistas calculem o montante a obter se, em vez de se gastar este dinheiro, investi-lo em mais produção ou simplesmente aplicá-lo em um banco. Com cálculos modestos, um montante de 400 bilhões de dólares, aplicados num banco durante 30 anos a uma taxa de 4% ao ano, renderia um trilhão e 300 bilhões de dólares. Dessa forma, procura-se entender o que os gestores pensam: em vez de plantar florezinhas e salvar peixinhos, coloca-se o dinheiro para render. Com sorte, apenas os menos favorecidos padeçam. Espera-se que estes comentários cínicos não se concretizem.

10. Viver como o cowboy ou como um astronauta?

Vive-se num ambiente fechado, o planeta Terra, e a forma como os princípios econômicos são aplicados influencia muito a continuidade da vida aqui. Boulding (1993) propôs que, se pensarmos na economia do século passado e a relacionarmos com um cowboy das planícies, tipo John Wayne, simbolizando um romântico, descuidado, explorador e de comportamento violento, solitário onde impera a “lei da bala” como nas sociedades dos pioneiros, ter-se-á uma réplica do que se pratica hoje em nossa economia. O consumo e a produção são coisas boas e seu sucesso depende da qualidade e da quantidade de material de reservas ilimitadas, como se o capim e os boi fossem infinitos, o ouro e a prata estivessem lá para serem descobertos. Os dejetos eram lançados em qualquer lugar por que se acreditava existirem muitos lugares e nunca seriam todos utilizados.

Mas há outra alternativa, ainda não praticada devido aos nossos resquícios de comportamento de cowboy, que se chama de economia do astronauta em que a medida de sucesso não é produção e o consumo, mas a forma de vida, a natureza, a terra, a qualidade e complexidade de todo o estoque capital que se possui incluindo os seres humanos. Numa astronave, o ambiente é limitado, depende-se do companheiro para realizar as tarefas e dos outros seres numa interdependência sistêmica. Tudo deve ser racionado e reciclado, desde os dejetos fisiológicos do homem ao ar respirado, alimentos e combustível, e não há lugares disponíveis nem para crescer nem para despejar lixo. Pode-se pensar no planeta Terra como uma astronave...

Latouche (2009) resume que a grande ilusão antropocentrista da modernidade é de acreditar que um planeta, onde se suprime algumas centenas de espécies vegetais e animais, será um bom planeta, um planeta humano, como se pudesse transformar toda floresta em parques gramados com os animais nas jaulas. Na verdade, cria-se com isso um planeta inumano. Parece um paradoxo, mas o triunfo do homem sobre a natureza irá nos levar a um resultado fatal e inelutável: o suicídio da humanidade. É preciso reconhecer que não existe guerra contra a natureza.

11. Algumas conclusões

Os problemas que enfrentamos são sistêmicos, isto é, estão interligados e são interdependentes, dificilmente se resolveriam isoladamente. Para que se possa reduzir a população mundial tem-se que reduzir a pobreza e aumentar o nível educacional; para que se possa manter a biodiversidade deve-se resolver o problema da fome e da dívida externa dos países mais pobres.

Georgescu-Roegen (1995) deixou alguns itens sarcásticos para serem pensados por dirigentes que queiram dar o primeiro passo rumo à uma sociedade mais igualitária, talvez não tão divertida, desperdiçadora ou dinâmica quanto a nossa, mas que dará mais segurança a todos.

  1. banir a guerra e a produção e investimento em material bélico;
  2. auxiliar, rapidamente, o terceiro mundo a obter existência digna, sem luxos;
  3. reduzir a população mundial até que uma agricultura, sem petróleo, possa sustentá-los;
  4. evitar o desperdício de energia enquanto se espera que outras formas de energia estejam disponíveis, como energia solar, termonuclear ou outras;
  5. reduzir a moda e os supérfluos;
  6. investir em mercadorias que sejam mais duráveis;
  7. reduzir a jornada laboral procurando redescobrir a importância do lazer.

Qualquer desses pontos se torna absurdo, senão risível dado seu alto grau de ingenuidade, ainda mais quando se adentra as diversas classes sociais, mas, ao não diminuir a população mundial, talvez, se tornasse interessante rever estes sete pontos num futuro próximo. Ainda assim, nota-se a necessidade de uma alteração de mentalidade, de paradigma, que ainda não foi observada por nossos dirigentes e pela maioria dos líderes políticos. As corporações e universidades possuem uma visão curta do que está por vir: um mundo mais populoso, mais poluído, mais pobre, com grandes necessidades de energia e água e com diversas reservas naturais à beira do esgotamento. Mas, como diz um amigo, ou se muda pelo amor ou pela dor. Existem soluções, o homem não se autodenominou Homo sapiens, o homem sábio, à toa. È certo que, quanto mais rápido se tomar as decisões certas e em conjunto, mais fácil será sair da crise ambiental/social.

REFERÊNCIAS

BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Ed. 70, Lisboa, 2007.

BOULDING, Kennth. The economics of the coming spaceship Earth. In DALY, H.; TOWNSEND, K. Valuing the Earth: Economics, ecology, ethics. Massachusetts: Massachusetts Institute of Technology, 1993. P. 297-309.

BROWN, Lester R. O vigésimo nono dia. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1980.

DALY, Herman; TOWNSEND, Kenneth. Valuing the Earth: Economics, ecology, ethics. Massachusetts: Massachusetts Institute of Technology, 1993.

DIAMOND, Jared. Colapso. Rio de Janeiro: Record, 2005.

EXAME, Revista. Editora Abril. Edição 917. Ano 42, nº 8. 07/05/2008.

FERNANDEZ, Fernando. O poema imperfeito: crônicas de biologia, conservação da natureza, e seus heróis. 2º Ed. Curitiba: Ed. UFPR, 2004.

FLANNERY, Tim. O clima está em nossas mãos. História do aquecimento global. Cruz Quebrada, Portugal: Estrela Polar, 2006.

FONSECA, Francisco. As reservas minerais e o futuro da humanidade. Belo Horizonte: Ed. Vega, 1977.

GEORGESCU-ROEGEN, Nicholas. La Décroissance: Entropie, Écologie, Économie. Paris: Editor Sang de la Terre, 1995.

GORE, Albert. Uma verdade inconveniente - O que devemos saber (e fazer) sobre o aquecimento global /Al Gor; [tradução Isa Mara Lando]. - Barueri, SP: Manole, 2006.

HAWKEN, Paul. The ecology of commerce: a declaration of sustainability. New York: Collins Business, 2005.

LATOUCHE, Serge. Disponível em: <>. Acessado em: 05 de janeiro de 2009.

MAY, Peter; LUSTOSA, Maria Cecília; VINHA, Valéria (Org.). Economia do meio ambiente: teoria e prática. Rio de Janeiro: Elsevier. 2003.

MEADOWS, Donella; RANDERS, Jorgen; MEADOWS, Dennis. Limites do crescimento: a atualização de 30 anos. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2007.

REES, Martin. Hora final. Alerta de um cientista: o desastre ambiental ameaça o futuro da humanidade. São Paulo: Cia das Letras, 2005.

WILSON, Edward. O futuro da vida: um estudo da biosfera para a proteção de todas as espécies, inclusive a humana. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

sábado, 18 de abril de 2009

Livro Ambiental

Novo livro ambiental no pedaço

E o rio levou...

O livro parodia o filme "E o vento levou", falando da situação calamitosa de uma comunidade de pescadores do rio Paraná.

As alterações ambientais causadas por três usinas hidrelétricas e por três unidades de conservação na planície de inundação do Alto rio Paraná, a 200 km ao norte de Guaira, deixaram a população de uma pequena cidade sem condições de lutar por seu sustento.

A água que nos dá vida e produz energia também pode destruir sonhos se não mudarmos nossa forma de viver. Pescadores fortes e rudes como os de Porto Rico, PR teriam dificuldades de fazer estas mudanças, devido a idade avançada e à falta de educação básica.

O livro recolhe depoimentos de moradores e fala das alterações ambientais que levaram a exclusão social.

Mais informações no blog de uma amiga.