segunda-feira, 11 de maio de 2009

3. Consumo

Dessa forma, mesmo sendo contra o pensamento econômico vigente, comum a quase toda a classe política e empresarial, que afirma e divulga na mídia, que a felicidade deve ocorrer por um maior crescimento, mais produtividade, mais emprego, maior poder aquisitivo e, portanto, mais consumo. Esta felicidade, aos olhos cínicos de Baudrillard (2007), deve ser mensurada, como se estivesse intensificando o bem-estar de uma comunidade, procurando manifestá-la aos olhos dos outros e de nós mesmos, como se necessitasse de provas para se ser feliz. A exigência de igualdade, de ter o que o outro tem ou algo melhor, distancia-se de toda a comemoração coletiva, de festas e celebrações, pois se fundamenta em princípios individualistas, de critérios visíveis.

A sociedade atual é de crescimento porque se deixa absorver por ela. Como se a democracia fosse direcionada de uma igualdade entre os homens para uma igualdade símbolo de êxito social e da felicidade. Passa a ser a democracia da televisão, do automóvel, dos celulares, democracia aparentemente concreta, mas formal, reforçando contradições e desigualdades sociais da própria constituição. Esta dualidade se conjuga numa democracia global, que mascara a democracia ausente e a igualdade difícil de achar. As diversas comunidades, ontem e hoje, desperdiçaram, gastaram e consumiram sempre além do necessário, pela simples razão de que é no consumo do excedente e do supérfluo que, tanto o indivíduo como a sociedade, se sente não só existir, mas viver. Sejam os antigos povos que queimam ou jogam no mar pele de animais, canoas e mantas para manter posição e afirmar o próprio valor, sejam as modernas sociedades em que a troca ou aquisição, racional ou irracional, de bens que se revelam essenciais no desenvolvimento de determinado setor da economia (BAUDRILLARD, 2007). Procura-se justificar uma utilidade para o quinto celular, para a décima bolsa ou para o vigésimo par de sapato.

Para o economista idealista, o crescimento é abundância, e a abundância é democracia. Simplificando, nesta sociedade de consumo, a abundância só terá sentido no desperdício - bens materiais, energia ou mesmo água, pois não se vive mais em função da sobrevivência. Aparentemente, se vive em função do sentido individual ou coletivo que se dá à vida.

Dessa forma, justifica-se o crescimento pelo próprio crescimento, como se fosse o objetivo primordial, senão o único da vida. Tal sociedade não é sustentável, porque vai contra os limites do planeta. O ator Danny deVito estrelou um filme dirigido por Norman Jewison “Com o dinheiro dos outros - Other People's Money” no início da década de noventa, em que o personagem argumenta que a finalidade da vida é amealhar o máximo de dinheiro até a morte. No final quem tiver mais ganha, diz ele. E essa forma efêmera de viver é aceita e incentivada. A publicidade está gerando necessidades de algo que não se precisa, com um dinheiro que não se tem, para impressionar pessoas que não se gosta.

Latouche (2009) diz que o decrescimento é uma necessidade, não é um ideal, nem o único objetivo de uma sociedade de pós-desenvolvimento. Pelo menos para as sociedades desenvolvidas, o decrescimento é um objetivo do qual se pode tirar proveito, abandonando o objetivo insensato do crescimento pelo crescimento. O decrescimento não é o crescimento negativo, expressão contraditória e absurda que traduz bem a dominação do imaginário do crescimento.

Para Latouche (2009), uma sociedade de crescimento não é desejável pelo menos por três razões: produz um aumento das desigualdades e das injustiças, cria um bem-estar amplamente ilusório, e não promove, para os próprios favorecidos, uma sociedade de convivência, de festas entre amigos, mas uma anti-sociedade doente devido à sua riqueza.

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